sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Há um bicho mau debaixo da cama!


Pela Dra. Ema Barros Mendes
Psicóloga Clínica de Crianças
 e Jovens
Existem quatro emoções básicas que são fundamentais para que seja possível conhecermos o que nos rodeia e dar-lhe um significado, de forma a nos adaptarmos e sobrevivermos. Uma dessas emoções é o medo. Este manifesta-se por um aumento do ritmo cardíaco e respiratório, tremores, sudação, boca seca, ruborização, dores no estômago e/ou calafrios. É uma resposta inata em situações percecionadas como ameaçadoras, sendo um reportório fundamental com o qual nascemos e que prepara uma resposta do nosso corpo perante este tipo de situações. Damos uma resposta de luta, imobilidade ou fuga quando é percecionado um perigo eminente.
Os medos são necessários em determinadas idades para que as crianças se protejam das ameaças. A ansiedade de separação evita o afastamento dos progenitores e o medo de sítios escuros, animais e de estar sozinha protegem de igual modo a criança de situações potenciais de risco para si. O medo das alturas na fase em que começam a gatinhar, também evita quedas e ferimentos. Deste modo, as crianças que não têm medo estão mais sujeitas a exposição a perigos.
Uma vez que têm um valor adaptativo os medos vão desaparecendo gradualmente e sendo substituídos por outros, em cada fase de desenvolvimento. Existem então medos expectáveis para cada idade que poderão variar de acordo com a criança.
 
Medos normativos/adaptativos:
 
Dos 0 aos 6 meses: Ruídos fortes
 
Dos 6 aos 12 meses: Alturas, pessoas estranhas e separação das figuras de vinculação, geralmente os pais.

 
De 1 aos 2 anos e meio: Ansiedade de separação das figuras de vinculação, tempestades e animais pequenos.
 
Dos 2 anos e meio aos 6 anos: Aqui dá-se uma evolução cognitiva – medo de seres imaginários: bruxas, monstros, fantasmas, escuro, animais, catástrofes e medo de estar sozinha. Nesta fase se a criança sonhar com um monstro pode ter receio que este esteja debaixo da sua cama.

 
Dos 6 aos 11 anos: Nesta fase os medos são mais realistas, aqui já consegue diferenciar uma representação sua subjetiva (monstros) da realidade objetiva, deixando de temer seres imaginários. Começa a ter medo de danos corporais: doenças, acidentes ou morte. Tem também medo das agressões, ladrões e raptos.

 
Dos 11 aos 13 anos: Preocupa-se com as mudanças que o seu corpo sofreu, com os relacionamentos interpessoais, a crítica ou rejeição na sua relação com os pares (colegas ou amigos) o que é fundamental para a sua integração social. Preocupa-se ainda com o rendimento escolar e com o conflito parental e/ou divórcio dos progenitores.

 
Dos 13 aos 18 anos: Aqui tem uma necessidade mais intensa de individualização pela construção do seu processo de autonomia com maior preocupação com os relacionamentos interpessoais, sucessos académicos e desportivos, tornando-se fundamental ser reconhecido/a pelo outro. Maior preocupação com a auto-imagem, sexualidade e autonomia. Aqui o/a jovem começa a querer procurar a sua própria identidade, procurando afirmar-se junto dos pares.

A Personagem Boo do filme “Monstros S.A.” da Pixar
desenhou o mostro que a assusta antes de dormir.
Assim, os medos poderão ser adaptativos ou desadaptativos consoante a idade da criança ou jovem, a intensidade, duração, frequência e/ou sofrimento associado. É ainda importante ter em linha de conta em que medida um medo condiciona os contactos sociais ou as atividades lúdicas da criança ou jovem. Se deixar de ir à casa de um/a amigo/a porque este/a tem um cão ou porque não consegue estar longe dos pais, estes medos estão a privá-lo/a de fazer atividades do seu interesse e fundamentais para o seu desenvolvimento. É então, nas situações acima referidas, que o medo constitui um problema por condicionar a vida das crianças ou jovens, contudo, quando é adaptativo assume um papel importante no crescimento.

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