terça-feira, 18 de novembro de 2014

Olha sabes? Agora vou ter duas casas!

Pela Dra. Ema Barros Mendes
Psicóloga Clínica de Crianças
 e Jovens
O processo de divórcio ou separação é doloroso, confuso e desgastante, começando no período que antecede esta resolução. Para além de todo o sofrimento que leva a esta decisão as tentativas que são feitas para melhorar a relação por vezes aumentam o conflito entre o casal. Muitas vezes os pais não estão disponíveis a 100% para os filhos pela gestão emocional que têm que fazer e pelas preocupações que uma separação gera. Nos casos em que um dos progenitores não se quer separar, há também processo luto por iniciar, sendo que o que toma esta decisão já o começou a elaborar, ainda durante a relação quando decidiu separar-se.
Há crianças que exteriorizam o que estão a sentir e outras que interiorizam, não falando sobre isso, podendo esconder um grande sofrimento interno com sentimentos de dúvidas e medos em relação ao futuro, tristeza, raiva ou até sentimentos de rejeição. Manifestam isto muitas vezes através de alterações do sono, da alimentação ou do comportamento (tristeza, decréscimo no rendimento escolar, agressividade, ou outros) ou através de regressões (fazer chichi na cama, birras ou outros). Apesar do momento confuso, desgastante e doloroso, é fundamental que os pais estejam atentos ao que se passa com os filhos, conversando, apoiando e desmistificando os seus receios face ao futuro.

Conjugalidade versus Parentalidade


Fonte da imagem: Google imagens
Antes de mais é importante reforçar que a Conjugalidade deve ser separada da Parentalidade. Os pais deixam de ser um casal mas jamais deixam de ter responsabilidade de cuidar, educar e amar os seus filhos. As crianças e jovens precisam dos dois progenitores para crescerem de uma forma saudável.
Eles já não gostam um do outro… também vão deixar de gostar de mim?
Muitas vezes as crianças pensam que por os pais já não se amarem, deixarão também de gostar de delas, sendo essencial no momento em que esta decisão é comunicada e nos momentos que se seguem, reforçar aos filhos que eles continuarão a ser a coisa mais importante da vida dos pais e que o amor por eles jamais acabará para que estes se sintam seguros.
A culpa é minha, se eu não desse tanto trabalho os meus pais ainda estavam juntos!
Com frequência as crianças culpabilizam-se, pensando que os pais se separaram por sua causa. É imprescindível dizer à criança que a separação não tem nada a ver com ela e que os pais agora gostam um do outro apenas como amigos.
 
Gostas mais da mãe ou do pai?
A minha filha tem sido a minha melhor amiga agora.
Jamais faça os seus filhos escolher, eles continuam a ser filhos dos dois e algumas decisões devem ser da responsabilidade dos adultos. Muitas vezes os filhos aliam-se também ao progenitor que ficou mais fragilizado, culpabilizando-se em seguida por terem tomado um partido. É importante que os pais estejam atentos e evitem fazer qualquer tipo de aliança com a criança ou jovem porque isto pode ocorrer, ainda que inconscientemente, pela fase dolorosa que estão a passar. Não se devem também apoiar nos filhos, devem sim recorrer a outros adultos ou a ajuda profissional mas esta carga jamais deverá ser suportada por uma criança ou jovem. Os papéis pais-filhos não devem ser, do mesmo modo, confundidos e os filhos não podem ser o amparo dos pais e muito menos os seus confidentes.
Em suma, apesar de difícil, após um processo de separação, os progenitores precisam de redefinir as responsabilidades e papéis parentais, focar-se e reavaliar as necessidades dos filhos, evitando que este momento doloroso e confuso contamine essa relação e tentar minimizar ao máximo o seu sofrimento pois eles também têm várias perdas para gerir. Caso sinta dificuldade neste processo de mudança deverá procurar ajuda junto de um técnico especializado.

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