Existem
quatro emoções básicas que são fundamentais para que seja possível conhecermos
o que nos rodeia e dar-lhe um significado, de forma a nos adaptarmos e
sobrevivermos. Uma dessas emoções é o medo. Este manifesta-se por um aumento do
ritmo cardíaco e respiratório, tremores, sudação, boca seca, ruborização, dores
no estômago e/ou calafrios. É uma resposta inata em situações percecionadas
como ameaçadoras, sendo um reportório fundamental com o qual nascemos e que
prepara uma resposta do nosso corpo perante este tipo de situações. Damos uma
resposta de luta, imobilidade ou fuga quando é percecionado um perigo eminente.
Pela Dra. Ema Barros Mendes Psicóloga Clínica de Crianças e Jovens |
Os medos são necessários em determinadas idades para que
as crianças se
protejam das ameaças. A ansiedade de separação evita o afastamento
dos progenitores e o
medo de sítios escuros, animais e de estar sozinha protegem
de igual modo a criança de situações potenciais de risco para si. O medo das
alturas na fase em que começam a gatinhar, também evita quedas e ferimentos. Deste
modo, as crianças que não têm medo estão mais sujeitas a exposição a perigos.
Uma
vez que têm um valor adaptativo os medos vão desaparecendo gradualmente e sendo
substituídos por outros, em cada fase de desenvolvimento. Existem então medos
expectáveis para cada idade que poderão variar de acordo com a criança.
Medos normativos/adaptativos:
Dos 0 aos 6 meses: Ruídos fortes
Dos 6 aos 12 meses: Alturas, pessoas estranhas
e separação das figuras de vinculação, geralmente os pais.
De 1 aos 2 anos e meio: Ansiedade de separação das
figuras de vinculação, tempestades e animais pequenos.
Dos 2 anos e meio aos 6
anos: Aqui
dá-se uma evolução cognitiva – medo de seres imaginários: bruxas, monstros,
fantasmas, escuro, animais, catástrofes e medo de estar sozinha. Nesta fase se
a criança sonhar com um monstro pode ter receio que este esteja debaixo da sua
cama.
Dos 6 aos 11 anos: Nesta fase os medos são mais
realistas, aqui já consegue diferenciar uma representação sua subjetiva
(monstros) da realidade objetiva, deixando de temer seres imaginários. Começa a
ter medo de danos corporais: doenças, acidentes ou morte. Tem também medo das
agressões, ladrões e raptos.
Dos 11 aos 13 anos: Preocupa-se com as
mudanças que o seu corpo sofreu, com os relacionamentos interpessoais, a crítica ou
rejeição na sua relação com os pares (colegas ou amigos) o que é fundamental
para a sua integração social. Preocupa-se ainda com o rendimento escolar e com
o conflito parental e/ou divórcio dos progenitores.
Dos 13 aos 18 anos: Aqui tem uma necessidade
mais intensa de individualização pela construção do seu processo de autonomia
com maior preocupação com os relacionamentos interpessoais, sucessos académicos
e desportivos, tornando-se fundamental ser reconhecido/a pelo outro. Maior preocupação
com a auto-imagem, sexualidade e autonomia. Aqui o/a jovem começa a querer
procurar a sua própria identidade, procurando afirmar-se junto dos pares.
A Personagem Boo do filme “Monstros S.A.” da Pixar desenhou o mostro que a assusta antes de dormir. |
Assim,
os medos poderão ser adaptativos ou desadaptativos consoante a idade da criança
ou jovem, a intensidade, duração, frequência e/ou sofrimento associado. É ainda
importante ter em linha de conta em que medida um medo condiciona os contactos
sociais ou as atividades lúdicas da criança ou jovem. Se deixar de ir à casa de
um/a amigo/a porque este/a tem um cão ou porque não consegue estar longe dos
pais, estes medos estão a privá-lo/a de fazer atividades do seu interesse e
fundamentais para o seu desenvolvimento. É então, nas
situações acima referidas, que o medo constitui um problema por condicionar a
vida das crianças ou jovens, contudo, quando é adaptativo assume um papel
importante no crescimento.
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